Memorial do Convento – Literatura em viagem

07 out 2020

Nestes tempos de pandemia, decidimos continuar viajando, mas de outro modo. Aproveitamos a reclusão forçada para colocar a leitura em dia. Hoje, começamos uma série para compartilhar um pouco daquilo que lemos, mas como este é um blog de viagens, obviamente que faremos um link com aquilo que consideramos mais importante: viajar!

Para quem não sabe, José Saramago é o autor preferido do Luciano. Ainda na adolescência ele leu, pela primeira vez, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Depois não parou: A Caverna, Todos os Nomes, Ensaio sobre a Cegueira, Ensaio sobre a Lucidez, Claraboia, O Ano de 1993, Caim, As Intermitências da Mortes… O preferido é, obviamente, Ensaio sobre a Cegueira.

Em nossa última viagem a Portugal, paramos na Fundação José Saramago, em Lisboa. Ficamos um tempão na lojinha, onde, obviamente, encontramos as obras de Saramago à venda. Um vendedor muito simpático nos atendeu e, conversa vai, conversa vem, ele nos disse que, para os portugueses, a obra-prima de Saramago é “Memorial do Convento”. Luciano, embora tenha lido muitos livros do português, não lera o Memorial do Convento. Voltou com este compromisso consigo mesmo. E, de fato, a obra é espetacular.

O pano de fundo do livro é a construção do Convento de Mafra, um dos principais pontos turísticos de Portugal (o qual, por incrível que pareça, não conhecemos, mesmo tendo passado um ano em Coimbra).  O Convento é fruto de uma promessa: se tivesse um filho, no prazo de um ano, o Rei mandaria construir o Templo. As personagens principais, Baltasar e Blimunda, conhecem-se em Lisboa, durante uma cerimônia de queima de “hereges”. Lembremos que estávamos no auge da Inquisição Portuguesa.

 

 

A obra traz críticas profundas à religiosidade. Olhem este trecho:

Dom João V vai ter de contentar-se com uma menina. Nem sempre se pode ter tudo, quantas vezes pedindo isto se alcança aquilo, que esse é o mistério das orações, lançamo-las ao ar com uma intenção que é nossa, mas elas escolhem o seu próprio caminho

Critica-se a perseguição realizada pela Igreja, a hipocrisia da sociedade (especialmente dos líderes religiosos), a corrupção generalizada:

Na guerra de João perdeu a mão Baltasar, na guerra da Inquisição perdeu Blimunda a mãe, nem João ganhou, que feitas as pazes ficamos como dantes, nem ganhou a Inquisição, que por cada feiticeira morta nascem dez, sem contar os machos, que também não são poucos.

querendo o Santo Ofício, são más todas as razões boas, e boas todas as razões más, e quando umas e outras faltem, lá estão os tormentos da água e do fogo, do potro e da polé, para fazê-las nascer do nada e à discrição (…)

 

O machismo também é alvo da pena do Nobel português:

Que caiba culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça. Além disso, quem se extenua a implorar ao céu um filho não é o rei, mas a rainha, e também por duas razões. A primeira razão é que um rei, e ainda mais se de Portugal for, não pede o que unicamente está em seu poder dar, a segunda razão, porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há de ser naturalmente suplicante, tanto em novenas organizadas como em orações ocasionais. 

Também se volta contra a exploração, em nome da fé, dos mais pobres e contra a megalomania do Império português.

Mas a obra também fala de amor, de amizade e cumplicidade, especialmente na relação entre as personagens principais e entre estas e o Padre Bartolomeu de Gusmão. Entre os homens simples da história formam-se relações de companheirismo. Longe dos palácios, as relações e sentimentos são mais verdadeiros.

Como o objetivo do texto não é fazer uma crítica literária, vamos parando aqui. Mas fica a sugestão de leitura, especialmente para aqueles que já são fãs de Saramago! Quem aqui já o Memorial do convento? Gostou? É  a obra favorita dele? Vamos conversar nos comentários!

 

 

 

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Publicado por Rachel e Luciano Guedes

Somos um casal apaixonado por viagens e que compartilha relatos e dicas voltados, não exclusivamente, para programas românticos. Todas as nossas dicas são baseadas em nossas experiências.

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